Smartphones e Infância: O Momento Certo de Introduzir a Tecnologia

A tecnologia faz parte do mundo em que as crianças crescem. Entretanto, quando se trata de smartphones, muitos pais se perguntam: qual é a idade certa? Como introduzir esses dispositivos sem comprometer o desenvolvimento emocional, social e cognitivo? A resposta não está em fórmulas prontas, mas sim na observação, no contexto familiar e, principalmente, na presença ativa e consciente dos adultos.
Quando Começar? Reflexões Sobre a Idade Apropriada
A introdução precoce do smartphone pode comprometer aspectos fundamentais do desenvolvimento infantil, como a atenção, a empatia e a autorregulação emocional. Ainda que algumas funções digitais possam apoiar a aprendizagem, o uso independente de smartphones deve ser avaliado com cautela.
Jeffery (2021) alerta que, por sua imaturidade cognitiva e emocional, crianças pequenas ainda não estão preparadas para lidar com a complexidade dos conteúdos e interações promovidos pelos smartphones.
Boa prática: Evite introduzir smartphones antes dos 10 anos como uso pessoal. Antes disso, priorize atividades digitais supervisionadas e com objetivos educativos claros.
Impacto Cognitivo e Emocional: Muito Além do Entretenimento
O uso contínuo de smartphones pode interferir no desenvolvimento de funções cognitivas superiores, como a memória, o foco e a capacidade de resolução de problemas. Além disso, pode reduzir a tolerância à frustração e o engajamento com o mundo real.
Clemente-Suárez & Beltrán-Velasco (2024) reforçam que o uso precoce e não mediado de dispositivos digitais afeta negativamente a atenção e a plasticidade cognitiva de crianças pequenas, sobretudo quando substitui brincadeiras físicas e interações humanas.
Boa prática: Para crianças até 8 anos, limite o tempo diário de tela a no máximo 1 hora e intercale com atividades sensoriais, físicas e sociais.
Pais e Telas: O Exemplo que Educa
A forma como os pais utilizam seus smartphones influencia diretamente a forma como os filhos lidam com a tecnologia. O uso excessivo dos adultos pode gerar o fenômeno da “tecnoferência” — interrupções nas interações familiares causadas por distrações digitais.
Knitter & Zemp (2020) demonstraram que altos níveis de uso parental de smartphones estão associados à menor qualidade de interação com os filhos, afetando o vínculo e o comportamento socioemocional das crianças.
Boa prática: Estabeleça momentos sem celular — como nas refeições ou antes de dormir — e respeite essas regras como exemplo para a criança.
Mediação Parental: Presença, Escuta e Diálogo
Introduzir o smartphone de forma consciente exige acompanhamento constante. A mediação parental eficaz se baseia na escuta, no diálogo e na construção de regras claras, respeitando a maturidade da criança e incentivando a autorregulação.
Braune-Krickau & Schneebeli (2021) mostram que a presença sensível dos pais durante a introdução de tecnologias contribui para o desenvolvimento emocional e social das crianças, promovendo segurança e confiança.
Boa prática: Ao permitir o uso de um smartphone, construa junto com a criança um contrato de uso responsável, com horários, tipos de conteúdo permitidos e momentos offline obrigatórios.
Cada Família, um Ritmo: Respeitar Contextos e Necessidades
Não existe uma idade “ideal” única para todos. A decisão sobre quando permitir o uso de smartphones deve considerar o nível de maturidade da criança, a dinâmica familiar, o acesso à supervisão e os objetivos de uso (educativo, recreativo, comunicacional).
Terras & Ramsay (2016) enfatizam que o mais importante não é o acesso à tecnologia em si, mas a forma como ela é integrada à vida da criança, com apoio parental, intenção pedagógica e limites consistentes.
Boa prática: Avalie periodicamente como está o uso do smartphone em casa. Ajuste regras e acompanhe os impactos — físicos, sociais e emocionais — com atenção e flexibilidade.
Conclusão
Introduzir smartphones na infância é uma decisão que exige cuidado, conhecimento e afeto. Com presença ativa, escuta e regras claras, é possível transformar esse momento em uma oportunidade de crescimento e responsabilidade. A tecnologia faz parte do presente, mas a maneira como ela entra na vida da criança pode definir o tipo de relação que ela terá com o mundo — dentro e fora da tela.
Mais do que o momento certo, o que realmente importa é o modo certo: com limites, afeto e coerência.
Referências (ABNT2)
CLEMENTE-SUÁREZ, V. J.; BELTRÁN-VELASCO, A. I. Digital device usage and childhood cognitive development: Exploring effects on cognitive abilities. Children, v. 11, n. 11, 2024. Disponível em: https://www.mdpi.com/2227-9067/11/11/1299. Acesso em: 14 abr. 2025.
KNITTER, B.; ZEMP, M. Digital family life: A systematic review of the impact of parental smartphone use on parent-child interactions. Digital Psychology, v. 1, n. 1, 2020. Disponível em: https://ejournals.facultas.at/index.php/digitalpsychology/article/view/1809. Acesso em: 14 abr. 2025.
BRAUNE-KRICKAU, K.; SCHNEEBELI, L. Smartphones in the nursery: Parental smartphone use and parental sensitivity and responsiveness within parent–child interaction in early childhood (0–5 years). Infant Mental Health Journal, 2021. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/imhj.21908. Acesso em: 14 abr. 2025.
TERRAS, M. M.; RAMSAY, J. Family digital literacy practices and children’s mobile phone use. Frontiers in Psychology, 2016. Disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyg.2016.01957/full. Acesso em: 14 abr. 2025.
JEFFERY, C. P. Parenting in the digital age: Between socio-biological and socio-technological development. New Media & Society, 2021. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/1461444820908606. Acesso em: 14 abr. 2025.
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