Privacidade na Internet: Ensinando os Primeiros Passos

Vivemos em uma era em que a presença online se inicia cada vez mais cedo. Desde jogos e aplicativos educativos até redes sociais e plataformas de vídeo, as crianças estão constantemente expostas ao ambiente digital — muitas vezes, sem a devida noção dos riscos que envolvem o compartilhamento de informações pessoais. Por isso, ensinar privacidade na internet desde os primeiros passos digitais é essencial para promover a segurança e o desenvolvimento consciente.
O Que é Privacidade Digital e Por Que Ela Importa?
Privacidade digital significa o controle sobre quais informações pessoais são compartilhadas, com quem e para que finalidade. Para as crianças, esse conceito precisa ser apresentado de forma lúdica, prática e constante, já que elas ainda estão em processo de desenvolvimento cognitivo e emocional.
Tao et al. (2022) mostram que crianças com maior letramento digital apresentam maior compreensão sobre privacidade e menor envolvimento com situações de exposição indevida, principalmente quando há apoio dos pais.
Boa prática: Ensine o que são “informações pessoais” por meio de brincadeiras, como jogos de perguntas seguras e perigosas (“Você deve contar sua escola para estranhos online?”).
O Papel dos Pais: Ensinar, Mediar e Aprender Junto
A mediação parental é a principal ferramenta para introduzir conceitos de segurança online. Mais do que proibir, os pais devem acompanhar, explicar e estar disponíveis para responder dúvidas — inclusive aprendendo junto com os filhos sobre novas plataformas.
Dedkova, Smahel & Just (2022) destacam que o nível de letramento digital dos pais influencia diretamente sua capacidade de proteger a privacidade online dos filhos. Quando os pais são bem informados, tendem a aplicar estratégias de mediação mais eficazes e empáticas.
Boa prática: Crie uma “hora digital em família” para revisar configurações de privacidade juntos e conversar sobre os conteúdos acessados na semana.
Privacidade em Plataformas e Jogos: Um Mundo Escondido
Muitos jogos e apps infantis coletam dados como localização, comportamento de uso e preferências sem que a criança perceba. A maioria das crianças e muitos pais desconhecem esses mecanismos — e, com isso, expõem dados sensíveis.
Sembiring (2024) afirma que fortalecer o letramento digital dos pais é um fator-chave na proteção contra a coleta abusiva de dados em ambientes infantis digitais. A supervisão deve ser técnica (como configurar apps) e educacional (ensinar o que é apropriado ou não).
Boa prática: Antes de instalar qualquer novo app, investigue suas permissões com seu filho e use isso como momento educativo: “Por que esse jogo quer saber sua localização?”
Formando o Olhar Crítico: Alfabetização Digital Desde Cedo
A alfabetização digital não se limita ao uso técnico de dispositivos — ela inclui também a capacidade de avaliar riscos, interpretar mensagens e agir com responsabilidade online. Quanto antes a criança começa esse processo, maior sua autonomia e segurança no ambiente digital.
Soyoof, Reynolds & Neumann (2024) demonstram que práticas educativas digitais em casa, aliadas à mediação constante, ampliam a compreensão das crianças sobre privacidade e reduzem comportamentos de risco digital.
Boa prática: Introduza livros e vídeos sobre segurança digital, adaptados à faixa etária da criança, para que ela se familiarize com esses conceitos de forma divertida.
Consciência Coletiva: Envolver Escola, Família e Comunidade
A responsabilidade pela educação em privacidade digital é compartilhada. Escolas, famílias e até espaços comunitários devem colaborar para formar crianças conscientes sobre seus direitos e deveres no mundo digital.
Livingstone, Stoilova & Nandagiri (2019) defendem que a educação para privacidade deve começar na primeira infância e envolver todas as esferas que cercam a criança. A formação de uma cultura de segurança digital depende da cooperação entre os diferentes atores sociais.
Boa prática: Participe de eventos escolares sobre educação digital e compartilhe com outros pais estratégias simples para promover a privacidade online desde cedo.
Conclusão
Ensinar os primeiros passos sobre privacidade na internet é mais do que proteger dados — é cultivar autonomia, senso crítico e responsabilidade digital nas crianças. Com apoio constante, linguagem acessível e espaços de escuta, pais e educadores podem transformar a relação das crianças com o mundo digital em uma experiência segura e formativa.
Porque ensinar a cuidar da própria privacidade é, também, ensinar a cuidar de si mesmo.
Referências (ABNT2)
TAO, S. et al. Digital technology use and cyberbullying among primary school children: Digital literacy and parental mediation as moderators. Cyberpsychology, Behavior, and Social Networking, 2022. Disponível em: https://app.scholarai.io/paper?paper_id=DOI:10.1089/cyber.2022.0012. Acesso em: 14 abr. 2025.
DEDKOVA, L.; SMAHEL, D.; JUST, M. Digital security in families: the sources of information relate to the active mediation of internet safety and parental internet skills. Behaviour & Information Technology, 2022. Disponível em: https://app.scholarai.io/paper?paper_id=DOI:10.1080/0144929X.2020.1851769. Acesso em: 14 abr. 2025.
SEMBIRING, S. Parental Digital Literacy: Protecting Children from Online Risks. TeIKA: Jurnal Teknologi Informasi dan Komunikasi dalam Pendidikan, v. 14, n. 2, 2024. Disponível em: https://app.scholarai.io/paper?paper_id=DOI:10.36342/teika.v14i2.3781. Acesso em: 14 abr. 2025.
SOYOOF, A.; REYNOLDS, B. L.; NEUMANN, M. The impact of parent mediation on young children’s home digital literacy practices and learning: A narrative review. Journal of Computer Assisted Learning, 2024. Disponível em: https://app.scholarai.io/paper?paper_id=DOI:10.1111/jcal.12866. Acesso em: 14 abr. 2025.
LIVINGSTONE, S.; STOILOVA, M.; NANDAGIRI, R. Children’s data and privacy online: growing up in a digital age. LSE Research, 2019. Disponível em: https://eprints.lse.ac.uk/101283. Acesso em: 14 abr. 2025.
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