Olhos na Tela: Cuidados com a Visão no Uso de Dispositivos

O uso frequente de telas digitais — como tablets, celulares e computadores — faz parte da rotina de muitas crianças. No entanto, esse hábito pode afetar diretamente a saúde ocular dos pequenos. Sintomas como olhos secos, visão embaçada, dor de cabeça e até a progressão da miopia têm se tornado cada vez mais comuns. Prevenir esses efeitos começa com informação, orientação e ajustes simples no cotidiano familiar.
O Que é a Fadiga Ocular Digital?
Fadiga ocular digital, ou digital eye strain, é o termo usado para descrever o desconforto visual que surge após longos períodos de exposição a telas. Crianças estão especialmente vulneráveis, pois muitas vezes não conseguem identificar ou descrever os sintomas com clareza.
Kaur et al. (2022) explicam que o uso prolongado de dispositivos eletrônicos exige esforço visual constante, favorecendo sintomas como olhos secos, coceira, visão turva e dores ao redor dos olhos. Essa condição pode se intensificar se não houver pausas frequentes e iluminação adequada.
Boa prática: Ensine a regra 20-20-20: a cada 20 minutos de tela, olhar para algo a 20 pés (6 metros) de distância por pelo menos 20 segundos.
Miopia Digital: Um Fenômeno em Crescimento
O aumento nos casos de miopia entre crianças tem sido associado ao uso excessivo de telas e à redução das atividades ao ar livre. A falta de luz natural e o esforço constante para focar objetos próximos contribuem para a progressão dessa condição visual.
Chu et al. (2023) realizaram um estudo com crianças em Hong Kong e identificaram uma correlação significativa entre o tempo diário em smartphones e o agravamento da miopia. Crianças com mais de 4 horas diárias de tela apresentaram maior taxa de cansaço ocular e alteração na acuidade visual.
Boa prática: Estimule atividades ao ar livre diariamente — ao menos 1 hora por dia — como forma de equilibrar o foco visual e proteger contra a progressão da miopia.
Iluminação, Postura e Telas: O Tripé da Prevenção
A forma como a criança interage com a tecnologia pode fazer toda a diferença. O ambiente onde ela estuda ou brinca online deve respeitar condições visuais adequadas, com iluminação natural ou difusa, postura ereta e distância ideal dos olhos à tela.
Pardhan, Parkin & Trott (2022) destacam que intervenções simples — como ajustar o brilho das telas, manter a tela na altura dos olhos e fazer pausas regulares — ajudam significativamente a reduzir os impactos visuais do tempo de tela em crianças de 6 a 15 anos.
Boa prática: Ajuste a altura da cadeira e da mesa para que a criança fique com os olhos na linha da tela e mantenha uma distância de 40 a 60 centímetros do dispositivo.
Exposição Silenciosa: Quando o Sintoma é Invisível
Nem sempre as crianças conseguem ou sabem relatar que estão sentindo desconforto visual. Isso torna essencial que os adultos estejam atentos a sinais indiretos, como irritabilidade, esfregar os olhos, piscar excessivamente ou perder o interesse nas atividades online.
Almahmoud et al. (2025) analisaram estudantes escolares e identificaram que a maioria dos sintomas oculares causados por telas era percebida pelos pais apenas tardiamente. A vigilância contínua e a rotina de pausas são fundamentais.
Boa prática: Observe o comportamento da criança durante e após o uso de telas. Se houver queixas visuais recorrentes, busque avaliação oftalmológica precoce.
Tecnologia com Responsabilidade: O Papel dos Pais
Proteger a visão dos filhos não significa eliminar as telas, mas sim ensinar a usá-las com responsabilidade. Isso envolve mediação ativa, exemplo dos adultos, organização do tempo de tela e incentivo ao autocuidado visual desde a infância.
Haider, Osama & Gul (2023) sugerem que pais que acompanham e monitoram o uso de dispositivos digitais contribuem significativamente para a redução de sintomas de fadiga ocular. A pesquisa ressalta ainda a importância de limitar o tempo contínuo de exposição sem pausas.
Boa prática: Estabeleça uma rotina digital saudável, com limite diário de uso e blocos de tempo intercalados por descanso visual e brincadeiras offline.
Conclusão
Com o avanço da tecnologia, o cuidado com a visão das crianças se tornou uma responsabilidade coletiva. Prevenir problemas como fadiga ocular e miopia não exige grandes investimentos — apenas atenção, informação e pequenos ajustes no dia a dia.
Olhos atentos às telas pedem também olhos atentos aos sinais do corpo. Com equilíbrio, acompanhamento e boas práticas, é possível transformar o uso de dispositivos em uma experiência mais saudável, segura e visualmente sustentável.
Referências (ABNT2)
KAUR, K. et al. Digital eye strain—a comprehensive review. Ophthalmology and Therapy, 2022. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s40123-022-00540-9. Acesso em: 14 abr. 2025.
CHU, G. C. H. et al. Association between time spent on smartphones and digital eye strain: a 1-year prospective observational study among Hong Kong children and adolescents. Environmental Science and Pollution Research, 2023. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s11356-023-26258-0. Acesso em: 14 abr. 2025.
PARDHAN, S.; PARKIN, J.; TROTT, M. Risks of digital screen time and recommendations for mitigating adverse outcomes in children and adolescents. Journal of School Health, 2022. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/josh.13170. Acesso em: 14 abr. 2025.
ALMAHMOUD, O. H. et al. Assessment of digital eye strain and its associated factors among school children in Palestine. BMC Ophthalmology, 2025. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1186/s12886-025-03919-x. Acesso em: 14 abr. 2025.
HAIDER, I.; OSAMA, M.; GUL, N. Impact of screen time on digital eye strain and visual acuity among medical students in Peshawar, Pakistan. Khyber Medical University Journal, 2023. Disponível em: https://www.kmuj.kmu.edu.pk/article/view/23402. Acesso em: 14 abr. 2025.
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