Jogos e Crianças: Escolhas Inteligentes para o Lazer Digital

O lazer digital faz parte do cotidiano infantil moderno. Jogos eletrônicos ocupam uma fatia significativa do tempo livre das crianças — e, apesar das preocupações de muitos pais, esse universo pode ser uma ferramenta rica de aprendizado e diversão. A chave está na escolha consciente: com orientação e critérios adequados, os jogos digitais podem contribuir para o desenvolvimento emocional, cognitivo e social.
Escolher é Ensinar: O Valor da Mediação Parental
Selecionar jogos digitais apropriados é uma forma poderosa de educar. Ao participar desse processo, os pais não apenas protegem, mas também ensinam seus filhos a fazerem escolhas mais seguras e conscientes dentro do ambiente digital.
Segundo Nalevska (2023), a mediação ativa dos pais durante o uso de mídias digitais está associada à redução de comportamentos problemáticos e ao aumento do senso crítico das crianças frente aos conteúdos consumidos.
Boa prática: Crie o hábito de escolher os jogos em conjunto com seu filho, discutindo juntos as características positivas e os possíveis limites de cada um.
Idade Importa: A Importância da Classificação Indicativa
As classificações etárias não são apenas orientações — elas são ferramentas essenciais para garantir que o conteúdo seja compatível com o estágio de desenvolvimento da criança. Ignorar essas faixas pode expor crianças a violência, linguagem inapropriada ou temas psicológicos inadequados.
Blumberg et al. (2019) ressaltam que o uso de classificações como ESRB ou PEGI ajuda a prever o impacto potencial dos jogos no comportamento infantil, sendo um recurso valioso para famílias.
Boa prática: Consulte sempre a classificação antes de permitir o jogo e explique à criança o motivo da recomendação — reforçando o cuidado e a responsabilidade envolvida.
Jogos que Ensinam: Quando o Lazer Também É Aprendizagem
Jogos digitais não são todos iguais. Alguns são desenhados para entreter, outros para ensinar. Quando bem selecionados, podem estimular competências cognitivas como memória, lógica e atenção — além de promover cooperação e resolução de problemas.
Clemente-Suárez & Beltrán-Velasco (2024) mostraram que jogos educativos digitais, se utilizados com limites claros e acompanhamento familiar, favorecem o desempenho cognitivo e até a saúde emocional.
Boa prática: Mantenha uma curadoria de “jogos do bem” em casa, com títulos que combinem diversão e desafio cognitivo, renovando a lista a cada mês com a ajuda da criança.
Limites Claros: Quando e Quanto Jogar?
Além do tipo de jogo, é fundamental estabelecer quanto tempo é saudável dedicar a esse lazer. O uso excessivo, mesmo de jogos considerados educativos, pode afetar negativamente o sono, a socialização e o bem-estar emocional.
Swider-Cios, Vermeij & Sitskoorn (2023) reforçam que o tempo de tela excessivo — principalmente sem supervisão — está associado a maior impulsividade e menor desenvolvimento de habilidades socioemocionais em crianças.
Boa prática: Negocie um tempo diário ou semanal de jogos, com pausas programadas e diversidade de atividades no dia. Aplicativos de controle parental podem ser aliados nesse processo.
O Jogo é da Família: Participar, Observar e Conversar
Jogar junto pode ser mais educativo e transformador do que apenas vigiar. Pais que compartilham esses momentos com os filhos fortalecem o vínculo afetivo e aproveitam oportunidades espontâneas para conversar sobre atitudes, escolhas e emoções.
Yu, DeVore & Roque (2021) destacam que pais envolvidos nas brincadeiras digitais conseguem motivar mais as crianças, além de aproveitar os jogos como ferramentas de ensino indireto.
Boa prática: Programe uma “noite do game em família” com jogos cooperativos, narrativos ou de estratégia. O importante não é vencer, mas se divertir e conversar.
Conclusão
Os jogos digitais, quando escolhidos com cuidado e acompanhados de perto, podem ser aliados valiosos no desenvolvimento infantil. Eles não substituem o brincar ao ar livre, a convivência familiar ou os estudos — mas, dentro de um equilíbrio saudável, ampliam repertórios e desafiam a mente de forma envolvente.
Escolhas inteligentes no lazer digital não significam apenas saber o que evitar, mas também valorizar o que pode ensinar. Afinal, o melhor controle é a presença — ativa, interessada e disponível.
Referências (ABNT2)
NALEVSKA, G. P. Parental attitudes and mediation in children’s use of digital media. International Journal of Research in STEM Education, 2023. Disponível em: https://eprints.uklo.edu.mk/id/eprint/10096/1/23057_ijrse_final.pdf. Acesso em: 14 abr. 2025.
BLUMBERG, F. C.; DEATER-DECKARD, K.; CALVERT, S. L. Digital games as a context for children’s cognitive development: Research recommendations and policy considerations. Social Policy Report, v. 32, n. 1, 2019. Disponível em: https://srcd.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/sop2.3. Acesso em: 14 abr. 2025.
CLEMENTE-SUÁREZ, V. J.; BELTRÁN-VELASCO, A. I. Digital device usage and childhood cognitive development: Exploring effects on cognitive abilities. Children, v. 11, n. 11, 2024. Disponível em: https://www.mdpi.com/2227-9067/11/11/1299. Acesso em: 14 abr. 2025.
SWIDER-CIOS, E.; VERMEIJ, A.; SITSKOORN, M. M. Young children and screen-based media: The impact on cognitive and socioemotional development and the importance of parental mediation. Early Childhood Research Quarterly, 2023. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0885201423000242. Acesso em: 14 abr. 2025.
YU, J.; DEVORE, A.; ROQUE, R. Parental mediation for young children’s use of educational media: A case study with computational toys and kits. Proceedings of the Interaction Design and Children Conference, 2021. Disponível em: https://dl.acm.org/doi/abs/10.1145/3411764.3445427. Acesso em: 14 abr. 2025.
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