Diálogo Aberto: Conversas Sinceras sobre o Mundo Digital

A internet faz parte da infância atual. Com poucos cliques, crianças acessam jogos, vídeos, redes sociais e mundos virtuais que podem educar, entreter — ou confundir. Diante disso, o papel dos pais vai além de vigiar: é preciso estabelecer uma relação de confiança e escuta com os filhos para orientá-los nesse ambiente tão amplo. E tudo começa com o diálogo.
Escuta Ativa: A Base da Comunicação Digital
Falar com os filhos sobre tecnologia é importante, mas escutá-los é ainda mais essencial. A escuta ativa — aquela em que o adulto se propõe a ouvir sem julgar — cria um espaço seguro para que a criança compartilhe dúvidas, inseguranças ou experiências vividas online.
Segundo Wong et al. (2020), o envolvimento parental nas interações cotidianas impacta diretamente o tempo de tela e o bem-estar psicossocial da criança. Quanto maior a presença afetiva e o diálogo, menores os riscos de problemas associados ao uso excessivo da tecnologia.
Boa prática: Faça perguntas abertas como “O que você achou daquele vídeo?” ou “Alguém disse algo que te deixou desconfortável hoje online?” — e escute com atenção verdadeira.
Confiança Digital: Um Vínculo que se Constrói
Para que os filhos se sintam à vontade para conversar sobre o mundo digital, eles precisam confiar que não serão punidos por cada erro. Isso não significa ser permissivo, mas criar um ambiente em que o aprendizado aconteça sem medo.
Banić & Orehovački (2024) reforçam que relações de confiança entre pais e filhos são o pilar da mediação digital eficaz. Em famílias com diálogo aberto, os filhos tendem a relatar situações problemáticas, como cyberbullying ou contatos estranhos, com mais facilidade.
Boa prática: Estabeleça o “acordo da confiança”: seu filho pode contar qualquer coisa que aconteça online sem medo de punição imediata. A regra é resolver juntos.
Conversas sobre Riscos: Como Abordar com Clareza
Falar sobre perigos da internet pode parecer delicado, mas é necessário. O segredo está em adaptar a linguagem à idade e tratar o assunto com clareza e naturalidade. Crianças bem informadas têm mais chances de agir com responsabilidade no ambiente digital.
Duek & Moguillansky (2020) apontam que a mediação ativa, com conversas frequentes sobre segurança online, é mais efetiva do que o simples controle técnico. A pesquisa também destaca a influência do gênero: meninas tendem a dialogar mais com os pais, o que exige atenção para garantir que todos sejam igualmente ouvidos.
Boa prática: Utilize exemplos reais ou notícias adaptadas à idade da criança para iniciar uma conversa sobre privacidade, golpes ou contatos suspeitos.
Preparação dos Pais: Nem Sempre Sabemos Tudo — e Está Tudo Bem
Muitos pais sentem que não dominam o mundo digital o suficiente para orientar os filhos. Mas, na prática, o mais importante não é saber tudo, e sim mostrar disposição para aprender junto. Isso fortalece o vínculo e modela uma atitude de aprendizado contínuo.
Zhao, Bazarova & Valle (2023) demonstram que a prontidão digital dos pais — sua abertura e confiança para lidar com tecnologias — é mais importante do que seu domínio técnico. Pais dispostos a perguntar e dialogar promovem melhores práticas digitais nas crianças.
Boa prática: Admita quando não souber algo e convide seu filho a descobrir com você. Dizer “vamos pesquisar juntos?” é mais educativo do que fingir saber.
Relações Fortes, Telas Menos Problemáticas
As conversas sinceras não acontecem de forma isolada — elas são resultado de relações fortes e frequentes. Criar tempo de qualidade juntos, dentro e fora do digital, ajuda a transformar a tecnologia em um ponto de encontro, não de conflito.
Marciano & Petrocchi (2022) mostram que o nível de conhecimento dos pais sobre o uso de telas está diretamente ligado à qualidade da comunicação familiar. Quando os laços são fortalecidos, o diálogo sobre tecnologia flui com mais naturalidade.
Boa prática: Crie momentos para conversar sem distrações digitais, como caminhadas, refeições ou rotinas noturnas. As melhores conversas surgem quando há conexão real.
Conclusão
Em um mundo digital cada vez mais presente e complexo, o diálogo continua sendo a ferramenta mais poderosa da parentalidade. Conversar com os filhos sobre o que acontece online não é apenas uma questão de segurança — é um ato de amor, presença e cuidado.
Construir uma cultura familiar de conversas abertas não exige fórmulas perfeitas. Requer escuta, curiosidade, empatia e, acima de tudo, a disposição de estar junto — mesmo quando o mundo parece estar a um clique de distância.
Referências (ABNT2)
WONG, R. S. et al. Parent technology use, parent–child interaction, child screen time, and child psychosocial problems among disadvantaged families. Journal of Pediatrics, 2020. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0022347620308490. Acesso em: 14 abr. 2025.
BANIĆ, L.; OREHOVAČKI, T. A comparison of parenting strategies in a Digital Environment: A systematic literature review. Multimodal Technologies and Interaction, v. 8, n. 4, 2024. Disponível em: https://www.mdpi.com/2414-4088/8/4/32/pdf. Acesso em: 14 abr. 2025.
DUEK, C.; MOGUILLANSKY, M. Children, digital screens and family: parental mediation practices and gender. Comunicação & Sociedade, 2020. Disponível em: https://journals.openedition.org/cs/pdf/2362. Acesso em: 14 abr. 2025.
ZHAO, P.; BAZAROVA, N. N.; VALLE, N. Digital parenting divides: The role of parental capital and digital parenting readiness in parental digital mediation. Journal of Computer-Mediated Communication, v. 28, n. 5, 2023. Disponível em: https://academic.oup.com/jcmc/article-pdf/28/5/zmad032/51231547/zmad032.pdf. Acesso em: 14 abr. 2025.
MARCIANO, L.; PETROCCHI, S. Parental knowledge of children’s screen time: The role of parent-child relationship and communication. Communication Research, 2022. Disponível em: https://sonar.ch/documents/325169/files/Marciano_etal_CR_2020.pdf. Acesso em: 14 abr. 2025.
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