Cyberbullying: Cancelamento na adolescência. As quatro perguntas e respostas essenciais!

Se você chegou até aqui é porque o título deste artigo parecer ser interessante. É provável que você seja um pai, uma mãe ou um responsável por um adolescente. Primeiro, saiba que é natural uma preocupação maior com o fato de nossos adolescentes se envolverem com cyberbullying, seja como vítimas ou agressores, seja como meros apoiadores dessa prática nociva.

Segundo, fique tranquilo quanto às fontes das informações que acessará. Vamos conversar sobre cyberbullying com base em artigos científicos recentes de revisão da literatura. A revisão da literatura é o processo de busca, análise e descrição do máximo da produção do conhecimento atual sobre este tema na ciência.

Saiba que é muito relevante este seu interesse. Infelizmente o cyberbullying não pode ser completamente erradicado da internet e das redes sociais. Ele pode ser monitorado e seus efeitos, prevenidos ou minimizados. Portanto, resta a nós, pais ou responsáveis, conhecer essa prática para reduzir seus impactos na saúde mental dos nossos filhos adolescentes.

A prevenção do cyberbullying contra adolescentes nas redes sociais maximiza o uso ético dessas redes e ela inclui o seu papel parental como mediador, tanto na divulgação das informações sobre o cyberbullying quanto na orientação sobre como seu filho ou filha adolescente pode interagir online no fornecimento de postagens ou comentários de postagens.

A seleção das informações nesse artigo foi guiada pelas dúvidas que interessam diretamente a quem cuida de adolescentes: 1. o que é o cyberbullying, 2. porque o cyberbullying vem crescendo entre adolescentes, 3. quais os tipos de cyberbullying e 4. como você pode identificar e lidar com o cyberbullying. Então, vamos lá!

O que é o cyberbullying

Cyberbullying é qualquer forma de assédio quando feito por meios eletrônicos, em geral em mídias ou redes sociais online.

O cyberbullying é o já conhecido bullying – conjunto de agressões físicas e psicológicas com o intuito de humilhar ou intimidar, que se repetem por algum período da vida da vítima – só que feito online. Compõe-se, portanto, mais por agressões psicológicas em forma de texto ou imagem. Por isso o cyberbullying também é chamado de bullying online.

O cuidado a ser observado é que, ao contrário do bullying tradicional, o cyberbullying ultrapassa os limites de espaço e tempo. Assim, enquanto antigamente um bullying tradicional em uma sala de aula podia ser interrompido pela simples mudança de escola, hoje em dia o impacto do cyberbullying pode perdurar e ser mais prejudicial.

Porque o cyberbullying vem crescendo entre os adolescentes

O cyberbullying cresceu na proporção do surgimento de novas tecnologias de interação remota síncrona ou assíncrona. Os adolescentes são o maior público usuário dessas tecnologias, em especial as redes sociais. Também, adolescentes são mais influenciáveis pela pressão dos seus pares, os outros adolescentes. A inclusão no seu grupo consome muito da sua enorme energia de viver, paralelamente ao seu maior medo: a exclusão por parte do seu grupo.

Logo, eles estão mais vulneráveis ao cyberbullying. Isto explica os números do último estudo de levantamento, feito nos EUA, pelo Pew research Center. Das 1.316 duplas de adolescente (13 a 17 anos) e seus pais, 46% experimentaram o cyberbullying.

Desses, 32% foram xingados com nomes ofensivos; 22% foram alvos de fake news; 17% receberam nudes que eles não pediram; 15% foram questionados constantemente onde estão, o que estão fazendo ou com quem estão por alguém que não os seus pais; 10% receberam ameaças físicas; e 7% tiveram seus nudes compartilhados sem consentimento.

O bullying comum e o cyberbullying sempre evolve três funções:

1. Agressor (Bullie)

2. Vítima

3. Observador

Observador, em geral mais de um, é quem age como espectador ou testemunha das consequências do bullying sobre a vítima. Eles podem ser conhecidos ou desconhecidos do agressor e da vítima e ter um papel ativo ou passivo, geralmente agindo de forma a reforçar o bullying, quando não o silenciam (o que também pode ser uma forma de concordância). No ambiente virtual, os observadores são difusos, desconhecidos e de amplo alcance, o que piora o efeito emocional do bullying.

Os tipos de cyberbullying e suas relações com o cancelamento

Há 7 tipos de cyberbullying, todos interconectados em maior ou menor grau com o cancelamento.

1. Incitação é o envio de texto com palavras que ferem os sentimentos com o intuito de ofender, ameaçar ou intimidar vítimas pertencentes a grupos, sem um alvo específico. O contexto para a incitação são as disputas entre adolescentes ou grupos de adolescentes nas redes sociais.

2. Assédio é o envio contínuo de texto ou imagens com insultos ou ofensas para uma vítima específica. O contexto para o assédio é o impacto do sofrimento dessa vítima sobre quem são os observadores do agressor. O agressor escolhe assediar a partir de uma ou mais características da vítima, como onde mora ou o modo como se veste, fala ou corta o cabelo.

3. Fingimento é o envio de textos sob disfarce, por exemplo, em um perfil falso, para poder enganar a vítima e prejudicar a sua reputação. O contexto para o fingimento pode ser os sentimentos de inveja ou vingança pelos feitos da vítima, ou até mesmo por diversão, quando o agressor se sente entediado.

4. Difamação é o envio de textos do tipo boatos e mentiras cruéis para prejudicar a reputação da vítima. O contexto para a difamação é a obtenção de reconhecimento ao expor atos ou qualidades negativas da vítima, não necessariamente verdadeiras.

5. Exposição é o envio de informação ou imagem íntima ou embaraçosa obtida da vítima. Seu contexto costuma ser semelhante ao do fingimento e da difamação.

6. Enganação é o envio de mensagens ardilosas com a intenção de obter da vítima imagens sigilosas, segredos e/ou informações embaraçosas para compartilhar nas redes sociais. O contexto da enganação é o que o torna um pré-requisito para os demais tipos de cyberbullying.

7. Exclusão é a ação de retirada intencional de uma pessoa de um grupo ou rede social. O contexto para a exclusão é chamado “cultura do cancelamento”, uma clara ameaça à liberdade de expressão nos tempos atuais. O objetivo do cancelamento é reforçar a ideia de que a vítima é alguém que só fala bobagens e não é confiável, alguém de quem se deve manter distância.

Cancelamento e adolescência

Você que é pai ou mãe de adolescente concorda que é comum ele ou ela reclamar de ser “cancelado(a)” pelos seus grupos, reais ou virtuais. Não curtir o que postam, criticar o que postam, não seguir ou parar de seguir são comportamentos comuns no ambiente cibernético. Quando com as intenções de constranger e intimidar, alguns desses comportamentos fazem parte de mais de uma forma de cyberbullying, além da exclusão.

Adolescentes costumam sofrer muito com o cancelamento, tido como uma consequência bastante aversiva do que fizeram (ou supostamente fizeram). Assim, como toda estimulação aversiva, o cancelamento pode gerar sintomas de ansiedade e depressão, incluindo ideação suicida.

No final, todos os envolvidos perdem. Os cancelados passam a coibir o seu pensamento livre. Os canceladores perdem a oportunidade de argumentar sobre o que discordam. E os observadores podem sentir raiva dos injustos e culparem-se por não defenderem os justos.

Como identificar e lidar com o cyberbullying

Os sinais do cyberbullying

O aparecimento dos sinais da ocorrência do cyberbullying na vida do seu filho ou filha adolescente dependem da sua frequência, duração e gravidade. Mudanças no comportamento e queda no desempenho acadêmico costumam ser os primeiros sinais, pois a energia gasta nos estudos passa a migrar para o “fazer algo” a respeito da agressão.

Observe sinais de comportamentos internalizantes, como a ansiedade, por exemplo a inquietação; ou a depressão, por exemplo, a desmotivação e a quietude. Também, observe os comportamentos externalizantes, a exemplo das ações que demonstram raiva ou agressividade. A perturbação emocional aparece durante ou depois de usar o smartphone ou a internet e após passar mais tempo do que o habitual no quarto. É comum esquivar-se de atividades envolvendo colegas de escola ou de perguntas diretas sobre o problema.

Uma vez identificado o início do problema, como prevenir a sua progressão:

1. Caso não possua habilidades de comunicação ou empáticas necessárias para mediar a situação, busque ajuda de um psicólogo para construir esse repertório em você.

2. Instrua o adolescente a bloquear qualquer contato com o agressor.

3. Incentive a vivência de diferentes papeis sociais, dentro e fora da escola, com diferentes grupos sociais, que não os grupos dos quais o agressor faz parte.

4. Reduza a frequência que o adolescente faz uso de redes sociais.

5. Saiba quais são as redes sociais que seu adolescente participa e procure ser parte desse mundo o quanto for possível e saudável para você.

6. Converse sobre monitorar as redes sociais, explicando porque isto é importante.

7. Envolva a escola, pois geralmente o problema tem a ver com os pares da escola.

8. Converse sobre a cultura do cancelamento, seu impacto na saúde mental e a importância e aceitar (e conviver com) as diferentes opiniões sobre um mesmo assunto, reforçando a participação nos outros grupos de inclusão.

9. Ensine aos filhos regras claras de uso de redes sociais, por exemplo, ter hora para responder escolhendo a quem e ao que responder, ou reconhecer momentos de clímax emocional e refrear o ímpeto a postar coisas ou se envolver em discussões.

10. Não julgue as ações pelas quais seu adolescente foi cancelado; construa uma relação com base na aceitação, na empatia e na perspectiva da mudança.

Fontes

Pew Research Center, December 2022, “Teens and Cyberbullying 2022.” https://www.pewresearch.org/internet/2022/12/15/teens-and-cyberbullying-2022/

Yemima, Chrisanta Kezia (2023). The Forms of Cyberbullying Behavior among Teenage Students: A Systematic Literature Review. Jurnal Bimbingan dan Konseling Terapan, 7(2), 151- 160.

Monroe, J. (2022, January 6). The mental health effects of teenage cancel culture. Newport Academy. https://www.newportacademy.com/resources/mental-health/teenage-cancelculture/?utm_source=pardot&utm_medium=email&utm_campaign=01_20_21_nh_multiple_c ancel_culture&utm_content=1st_cta

Peebles E. (2014). Cyberbullying: Hiding behind the screen. Paediatr Child Health, 19(10):527-8.

Chen, Q., Zhu, Y., & Chui, W. H. (2020). A Meta-Analysis on Effects of Parenting Programs on Bullying Prevention. Trauma, Violence, & Abuse, 152483802091561. doi:10.1177/1524838020915619

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Respostas

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  1. Este conteúdo é muito importante para ajudar a identificar o sofrimento de nossos jovens.
    Vamos ficar atentos e orientar nossos jovens com segurança e carinho.
    Obrigada

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