Conexões Reais: Como Criar Momentos Familiares sem Telas

No mundo atual, onde a tecnologia está presente em quase todos os momentos do dia, encontrar tempo de qualidade em família sem a mediação das telas é um desafio — e uma oportunidade. Reestabelecer essas conexões reais dentro de casa fortalece laços, melhora a comunicação e promove o bem-estar físico e emocional de todos. Mais do que limitar o uso de dispositivos, trata-se de valorizar o tempo juntos com presença verdadeira.
Presença Plena: O Impacto do Exemplo dos Pais
Crianças aprendem observando. Quando os adultos demonstram dificuldade em se desconectar, isso transmite a ideia de que as telas são indispensáveis — mesmo nos momentos familiares. Reduzir o próprio tempo de tela é o primeiro passo para construir uma nova cultura doméstica.
Liu (2021) mostrou que o tempo de tela dos pais está fortemente correlacionado com o comportamento digital dos filhos. Quando os adultos reduzem seu uso e priorizam interações offline, as crianças tendem a seguir o mesmo padrão.
Boa prática: Estabeleça horários “sem telas” para toda a família, como refeições, passeios ou os primeiros 30 minutos após chegar em casa.
Comunicação que Conecta: O Poder da Conversa
A presença digital pode interromper ou reduzir a qualidade das conversas familiares. Criar espaços de diálogo sem interferência de dispositivos é fundamental para que as crianças se sintam ouvidas, acolhidas e emocionalmente seguras.
Permana, Sulistianingsih & Muslimah (2024) defendem que estratégias de escuta ativa e conversas frequentes ajudam a reduzir o tempo de tela e reforçam a percepção da criança sobre o valor do tempo em família.
Boa prática: Crie um “ritual da conversa”, como uma roda no final do dia para compartilhar algo bom, algo desafiador e algo engraçado vivido por cada um.
Momentos com Sentido: Criando Rotinas de Qualidade
O tempo offline não deve ser um castigo ou ausência de estímulo — mas sim uma oportunidade para vivências significativas. Brincadeiras, culinária em família, jardinagem ou até uma simples leitura compartilhada podem transformar o cotidiano em experiência afetiva.
Mukherjee (2021) aponta que a criação de rotinas familiares desconectadas favorece a autonomia da criança e reduz a dependência emocional da tecnologia.
Boa prática: Escolha um dia da semana para uma “noite sem eletrônicos” e promova jogos de tabuleiro, contação de histórias ou culinária coletiva.
Convívio Presencial: O Valor do Tempo Compartilhado
Estar junto é diferente de estar no mesmo ambiente. Interações presenciais intencionais — com olho no olho, toque e atenção plena — promovem sentimentos de pertencimento e reforçam o vínculo entre pais e filhos.
Knitter & Zemp (2020) afirmam que o uso frequente de smartphones por pais afeta negativamente a qualidade da interação com os filhos. Já a redução da distração digital aumenta o engajamento emocional e a responsividade parental.
Boa prática: Durante atividades com as crianças, desligue ou coloque o celular em modo avião. Isso mostra, na prática, que nada é mais importante do que aquele momento.
Mais Natureza, Menos Notificações: Reencontro com o Mundo Real
Ambientes naturais estimulam a imaginação, reduzem o estresse e promovem vínculos familiares mais fortes. Estar ao ar livre é uma forma concreta de se desconectar dos estímulos digitais e reconectar com o corpo, o outro e o presente.
Seiler (2023) analisou o impacto do tempo de tela nas interações sociais de crianças sul-africanas, revelando que o contato frequente com a natureza está associado a maior envolvimento social e emocional no ambiente familiar.
Boa prática: Programe passeios em parques, trilhas ou espaços verdes nos fins de semana. Convide a criança a observar detalhes — plantas, sons, cores — para fortalecer a atenção plena.
Conclusão
Criar momentos familiares sem telas não é um movimento contra a tecnologia, mas a favor da presença. Em um mundo onde a distração é constante, oferecer tempo de qualidade, conversas significativas e convivência real é um presente valioso para o desenvolvimento das crianças — e para a saúde emocional de toda a família.
Essas conexões reais não precisam ser longas ou complexas — precisam ser autênticas. E, para isso, o primeiro passo pode ser tão simples quanto colocar o celular de lado e olhar nos olhos de quem está ao nosso lado.
Referências (ABNT2)
LIU, Y. Relationship between parental and children’s screen time at home. University of British Columbia, 2021. Disponível em: https://app.scholarai.io/paper?paper_id=DOI:10.14288/1.0402555. Acesso em: 14 abr. 2025.
PERMANA, H.; SULISTIANINGSIH, S.; MUSLIMAH, M. Parent-child communication strategies in the digital era. ICPJ Conference Proceedings, 2024. Disponível em: https://icpj.staiku.ac.id/index.php/sc/article/view/3. Acesso em: 14 abr. 2025.
MUKHERJEE, U. Navigating children’s screen-time at home: Narratives of childing and parenting within the familial generational structure. Children’s Geographies, 2021. Disponível em: https://app.scholarai.io/paper?paper_id=DOI:10.1080/14733285.2020.1862758. Acesso em: 14 abr. 2025.
KNITTER, B.; ZEMP, M. Digital family life: A systematic review of the impact of parental smartphone use on parent-child interactions. Digital Psychology, 2020. Disponível em: https://app.scholarai.io/paper?paper_id=DOI:10.24989/dp.v1i1.1809. Acesso em: 14 abr. 2025.
SEILER, J. Caregivers’ experiences on the effects of screen-time on social interactions of South African children in the intermediate phase. University of Pretoria, 2023. Disponível em: https://repository.up.ac.za/handle/2263/94579. Acesso em: 14 abr. 2025.
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