Aspectos da saúde e da doença na adolescência, influenciados pelo uso da tecnologia.

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Introdução

A adolescência é um período crucial, que molda a vida. Momento de escolhas e decisões, conflitos relacionais, mudanças físicas e psicológicas. A saúde do adolescente é extremamente relevante para que ele possa ter capacidade de fazer escolhas adequadas para atravessar essa fase da vida com segurança. Infelizmente os adolescentes estão vivendo um momento de muito adoecimento emocional e grande parte dos especialistas relacionam a doença emocional ao uso inadequado da tecnologia.

Para Bruce Perry (1), o sofrimento está nas origens das más escolhas e que nem sempre conseguimos explicar racionalmente. Na adolescência, atualmente permeada por tantas informações contraditórias – advindas das redes sociais – fazer boas escolhas se tornou um grande desafio uma vez que requer maturidade e acompanhamento adequado de seus cuidadores. Segundo este mesmo autor, quando perdemos a sensação de significado da vida e nos desconectamos do nosso corpo, vem a doença e acontece o colapso da nossa saúde mental, física e social. A desconexão com o corpo é natural quando não percebemos nossas necessidades físicas e emocionais.

Saúde emocional: abrangendo o indivíduo e seu contexto

Podemos compreender a saúde emocional dos adolescentes abrangendo vários aspectos de sua vida. A Organização Mundial da Saúde (OMS), entende que a saúde emocional não se limita apenas ao que sentimos individualmente, corresponde a uma rede de fatores interligando qualidade de vida, contexto de desenvolvimento, alimentação e violência, entre outros (2). A saúde emocional se configura como um estado de bem-estar que permite ao indivíduo lidar com as demandas da vida de maneira satisfatória e produtiva, construindo relações interpessoais saudáveis e contribuindo para a comunidade. Essa definição engloba diversos aspectos interligados, como:

  • Autoestima: Sentimento de valor próprio, autoconfiança e capacidade de lidar com desafios.
  • Autocontrole: Habilidade de regular emoções, pensamentos e comportamentos.
  • Resiliência: Capacidade de se adaptar e superar situações adversas.
  • Habilidades sociais: Capacidade de se comunicar, interagir e construir relacionamentos saudáveis.
  • Bem-estar subjetivo: Sentimento de satisfação com a vida e com os diversos aspectos que a compõem.

Para Gabor Maté (3), estamos imersos no conceito de normalidade tentando alcançar objetivos particulares e não comunitários, quanto mais nos definimos assim, mais nos distanciamos de aspectos vitais de quem somos e daquilo que necessitamos para sermos saudáveis. Precisamos desenvolver o senso de comunidade e ter objetivos em comum para nos fortalecer e termos uma vida mais digna e com suporte.

A saúde emocional engloba o bem-estar do indivíduo como um todo e não é vista como uma manifestação isolada, ela é influenciada pelo meio e resulta da interação de fatores biológicos, psicológicos e sociais.

Quando compreendemos que a saúde emocional envolve multifatores, podemos pensar no papel que cada um tem nesse processo. A influência dos ambientes familiar, escolar e social, em que o jovem está inserido, é fundamental para construir um senso de comunidade e uma saúde emocional mais adequada para eles. A formação da saúde no desenvolvimento é responsabilidade de todos. É dever de todos promover o bem-estar emocional, físico, mental e psicológico e proteger os jovens de experiências e influências negativas que possam afetar o seu potencial.

Indicadores preocupantes no adoecimento emocional

Segundo a OPAS/OMS (4), a principal causa que incapacita os adolescentes é a depressão, já o suicídio é a terceira principal causa de morte entre eles. Estes dados são alarmantes quando pensamos que a cada seis pessoas uma tem entre 10 e 19 anos.

Grande parte dos adolescentes demonstra através do comportamento se estão se sentindo saudáveis emocionalmente. Como educadores, podemos observar estes comportamentos e ficarmos alerta a alguns indicadores de dificuldades/instabilidades provocadas pelo uso excessivo da tecnologia, tais como:

  • Irritabilidade frequente e alterações de humor;
  • Dificuldades de concentração e foco;
  • Isolamento social e desinteresse por atividades antes prazerosas;
  • Alterações nos padrões de sono e alimentação;
  • Desempenho escolar inadequado;
  • Comportamento impulsivo e agressivo;
  • Uso excessivo de dispositivos eletrônicos, mesmo em detrimento de outras atividades.

Estratégias para desenvolver a saúde emocional

Não podemos esquecer que a adolescência é um período de muitas descobertas, curiosidades, desenvolvimento do corpo, descobertas da sexualidade, busca da autenticidade, contradições, escolhas e indecisões. Podemos auxiliar no equilíbrio promovendo espaços para falar das emoções, para resolver problemas e conflitos.

  • Estabelecer limites claros para o uso da tecnologia
  • Diálogos abertos e francos sobre os riscos e os benefícios da tecnologia
  • Estimular a práticas de hábitos saudáveis como: alimentação, sono e exercícios físicos

Conclusão

A adolescência é uma fase de transição e vulnerabilidade emocional. Nesse contexto, o uso da tecnologia, embora traga benefícios, também pode representar riscos à saúde emocional dos jovens. É fundamental, portanto, a adoção de estratégias conjuntas por pais, educadores, profissionais de saúde e os próprios adolescentes para promover o uso seguro e responsável da tecnologia, fomentando o bem-estar emocional e o desenvolvimento saudável dos jovens na era digital.

 “Não somos responsáveis pelo mundo que nos criou, mas somos responsáveis pela mente que criamos do mundo que nos habita.” (Maté, G., 2023)

Referências Bibliográficas

  1. PERRY, Bruce D.; WINFREY, Oprah. O que aconteceu com você? Rio de Janeiro: Sextante, 2022. 320 p.
  • MATÉ, Gabor; MATÉ, Daniel. O mito do normal: Trauma, saúde e cura em um mundo doente. Rio de Janeiro: Sextante, 2023. 426 p.

Leitura Sugerida

  • Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Saúde de Crianças e adolescentes na Era Digital. Acesso em: 01/07/2024. Disponível em:
https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/2016/11/19166d-MOrient-Saude-Crian-e-Adolesc.pdf
  • Twenge, Jean M. iGen: Por que as crianças de hoje estão crescendo menos rebeldes, mais tolerantes, menos felizes e completamente despreparadas para a vida adulta. São Paulo: nVersos, 2018.
  • Alter, Adam. Irresistível: por Que Você É Viciado em Tecnologia e Como Lidar com ela. Rio de Janeiro: Objetiva, 2018.

#Aspectos da saúde e da doença na adolescência, influenciados pelo uso da tecnologia.

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