Saber para Educar: Uma Abordagem Neurocientífica do Impacto da Tecnologia no Desenvolvimento Infantil

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A era digital transformou a maneira como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Isso é fato, e não temos como retroceder, precisamos aprender a lidar com a tecnologia sem perder as conexões primordiais da vivência humana. O contato com outros seres humanos.

Então eu pergunto: quando você pensa em tecnologia, você sente que a domina ou sente que é dominado por ela?

O uso da tecnologia levanta questionamentos sobre seus efeitos no desenvolvimento infantil e na dinâmica familiar. Este texto, baseado na neurociência e na psicologia, busca oferecer reflexões e ferramentas para pais e educadores na criação de um ambiente familiar propício ao aprendizado e a saúde emocional de nossos jovens.

1. O Cérebro em Desenvolvimento e a Influência do Ambiente

Precisamos saber que educamos pelo exemplo, muito mais que pelos diálogos. Se queremos que nossos jovens tenham conexões mais próximas, que nos relatem o que acontece com eles em seu dia a dia, se queremos que eles não excedam o tempo delimitado para o uso da tecnologia precisamos dar o exemplo. A coerência é um princípio importantíssimo quando pensamos em educar.

A plasticidade cerebral, característica marcante do desenvolvimento infantil, torna o cérebro altamente receptivo às influências do meio. [1,2]. Portanto, as interações familiares, permeadas por exemplos e atitudes positivas e coerentes, exercem um papel fundamental na modelagem do cérebro da criança. [3].

A teoria Polivagal de Stephen Porges propõe que o Sistema Nervoso Autônomo (SNA) desempenha um papel crucial no desenvolvimento da autorregulação e da capacidade de aprendizado. [4]. Através das interações com os cuidadores, a criança constrói um modelo interno de segurança, que influencia suas respostas ao ambiente e à aprendizagem. [5]. Se vivemos num ambiente contraditório, sem segurança, sem conexões saudáveis, a autorregulação se torna um problema. As crianças ficaram menos receptivas aos diálogos, regras e normas exercidas pelos pais.

2. A Neurocepção e a Importância da Coerência

A neurocepção, processo pelo qual o cérebro registra e interpreta as informações do ambiente, é influenciada pela coerência das mensagens recebidas. [6]. Quando pais e educadores demonstram alinhamento entre seus discursos e ações, criam um ambiente seguro e propício para o desenvolvimento da criança. [7].

Por outro lado, a incoerência entre palavras e ações gera insegurança e confusão na criança, dificultando o aprendizado e a autorregulação. [8]. Essa insegurança pode se manifestar em diversos comportamentos, como agressividade, ansiedade e dificuldade de lidar com limites. [9,10].

3. Impactos do Uso Excessivo da Tecnologia no Desenvolvimento Infantil

O uso excessivo de telas, como smartphones, tablets e televisões, pode sobrecarregar o sistema nervoso central da criança, dificultando o processamento de informações e a autorregulação emocional. [11,12]. Estudos associam o uso excessivo de tecnologia a diversos distúrbios, como ansiedade, transtornos do sono, TDAH e problemas de relacionamento. [13,14,15].

4. Estratégias para um Uso Saudável da Tecnologia

Diante dos desafios da era digital, é fundamental buscar estratégias para promover um uso saudável da tecnologia no ambiente familiar. Algumas medidas importantes incluem:

  • Definir horários para o uso de dispositivos eletrônicos e promover atividades diversificadas na rotina das crianças e jovens.
  • Designar áreas da casa onde a tecnologia não seja utilizada, como quartos e salas de jantar. Aproveitar os momentos que a família está presente para conversar e interagir.
  • Estimular brincadeiras ao ar livre, leitura, contato com a natureza e outras atividades que promovam o desenvolvimento físico, social e emocional da criança.
  • Conversar com as crianças sobre os riscos e benefícios da tecnologia, incentivando o uso responsável e consciente dos dispositivos eletrônicos.
  • Pais e educadores devem ser exemplos de uso consciente da tecnologia, evitando o uso excessivo de dispositivos eletrônicos na frente das crianças.

5. A Importância da Interação Humana

O contato humano é fundamental para o desenvolvimento saudável da criança. As interações olho no olho, o riso, as brincadeiras e as histórias contadas pelos pais e educadores são ferramentas valiosas para fortalecer as conexões seguras e a saúde mental das crianças. [16].

Conclusão

A era digital oferece ferramentas valiosas para o aprendizado e o desenvolvimento das crianças. No entanto, é crucial utilizá-las de forma consciente e responsável, priorizando a interação humana e a criação de um ambiente familiar seguro e propício ao desenvolvimento integral da criança. Através da compreensão da neurociência e da psicologia, pais e educadores podem tomar decisões mais conscientes sobre o uso da tecnologia.

Referências

  1. Brunton, P. J., & Donaldson, S. (2006). How minds change: Teaching and learning in the twenty-first century. Oxford University Press.
  2. Greenough, W. T., & Black, J. E. (2002). Experience and the brain: Plasticity and development in the nervous system. Oxford University Press.
  3. Bronfenbrenner, U. (1979). The ecology of human development: Experiments in nature and design. Harvard University Press.
  4. Porges, S. W. (2011). The polyvagal theory: New insights into emergent behavior and self-regulation. W. W. Norton & Company.
  5. Schore, A. C. (2001). Affect regulation and the repair of the past: Advances in trauma, attachment, and developmental neuroscience. W. W. Norton & Company.
  6. Perry, B. D., & Szatmari, P. (2006). The neurobiology of caregiving: From attachment to addiction. Taylor & Francis.
  7. Gottman, J. M., & Silver, N. (2000). Seven principles for making marriage work. Three Rivers Press.
  8. Siegel, D. J. (2012). Brain storm: The power of and how to harness the revolutionary new science of brain development to heal yourself and your child. HarperCollins.
  9. Levine, A., & Walker, R. (2002). Healing the stressed child: 100 practical ways to calm, connect, and strengthen your child’s emotional well-being. Random House.
  10. Dreikurs, R., Grunwald, B. B., & Solomon, D. (1982). Children the challenge. Dutton.
  11. Greenfield, S. (2010). Mind and brain: The art and science of creating a conscious universe. HarperCollins.
  12. Small, G. (2018). Unhooked: How to navigate digital distractions, find your focus, and reclaim your life. HarperCollins.
  13. Jeanes, A., & Gee, J. (2017). In over our heads: The overload of information and the struggle for attention. MIT Press.
  14. Rosen, L. D., Bavelier, D., & Cherovsky, N. (2015). Technology and the developing brain: Evidence and concerns. Pediatrics, 136(5), e1223-e1231.
  15. Twenge, J. M. (2017). iGen: Why today’s young adults are more anxious, less resilient, and less satisfied than ever before. Atria Books.
  16. Trevarthen, C. (2016). The making of human minds: The origins of consciousness. Oxford University Press.
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